segunda-feira, março 16, 2015

Coração de Ferro e Entranhas de Bronze

Venho a este danado canto de novo
A pesada bruma da vida aqui me levou,
Saudade abrupta de uma vida de um povo
Olá ignorância infantil que me deixou,
Aqui nos encontramos mais uma vez
Quando pensava ter-me visto livre de ti,
Como tens passado e o que vês,
Neste rosto assustado de mim.
Todos nós temos de morrer um dia
E isso dói no nervo da memória,
Quando toda a luz deixa a cova vazia
Porque o corpo já não faz história,
E deixa o planeta em apodrecimento,
Até ao dia em que o lobo coma o Sol
E é no fim que nasce este desalento
Que me deixa pesado e inerte num anzol,
Isco e engodo de ansiedade e sufoco,
Tremo na fobia trepidante da morte
E com cada noite de silêncio rouco,
Temo neste mundo perder o Norte.
Consumido pela amarga escuridão
Que traz a sádica e lógica sinapse
Porque não há possível salvação
Arrepiante existência aguarda o colapso
E nada há de mais triste e cruel,
Que o auto-conhecimento e consciência de um fim
E que sou tão frágil como o papel,
E nele preciso de merecer memória de mim.
Um dia esta espada e este escudo estarão pousados
A minha luta terrestre termina no desconhecido
E este corpo fútil estará prostrado
Alguém me virá buscar ou ficarei esquecido...

sábado, junho 07, 2014

Luta de Classes II - Gripagem

A correia parte-se e o aparelho pára
Instala-se o pânico numa encenação,
Os responsáveis de sempre, sairá cara
A injusta cobiça dos que não têm coração;

Somos muitos presos no jugo do capital
Calados por uma dor de querer respirar,
Em liberdade, igualdade, à escala global
Colectivamente no fervoroso levantar,
De uma realidade que em si consiga,
Fazer a máquina socorrer a vontade
Deixando de ter a faceta de inimiga,
Representando a exploração sem dignidade
Do homem pelo homem, determinando
Condição de existência pelo nascimento,
São o chassis a que boquiaberto admirando
O outro atribui a grandeza do talento;

O outro que nasceu também para se revelar
Capô por vontade divina que assim respeita,
Um engenhoso e ridículo manipular
Passado de geração em geração por mística seita;

O que não vêem é o núcleo do mecanismo
A classe que é a verdadeira engrenagem,
A maioria oprimida atirada para o consumismo
Submissa aos termos do capitalismo selvagem;

Silenciada, esmagada, pela carroçaria
Que se abrilhanta com os melhores dos luxos,
Enquanto o motor sobreaquece na noite mais fria
Debatendo-se com o exterior como quem vaza cartuchos
Como quem desobedece à classe dominante
Como quem grita de punho cerrado, com vontade determinante
Que está na altura de chegar o derradeiro dia
E numa gripagem de classes exterminar-se a burguesia!

A Revolução iminente!

quarta-feira, junho 04, 2014

Uma Epopeia Vermelha

Invocados para este injusto mundo
Por mentes como Marx e Lenine,
Não esperar nem mais um segundo
Para que este sistema se afine,
É uma orquestra dissonante
Dirigida de forma corrupta,
Inconformidade constante
Para com esta mentira absoluta,
Republicanas monarquias
Campanhas são contos de fadas,
Oposição central promete magias
Em poder são dilaceradas,
O nosso destino na nossa mão
Inspirados por Trotsky e Che,
E lutemos sem hesitação
Pela democracia que já não a é,
Recuperemos a soberania de Portugal
É preciso que a direita caia,
Com a determinação de Cunhal
Com a força de Otelo e Maia,
E sobretudo com a audácia de um povo
Amansado pela mentira,
Que está condenado a insurgir de novo
Seja com paz, seja com ira!
Pois cada voz é mais um grão
Neste areal de Revolução!

sábado, maio 24, 2014

A Morte do Cravo

Mas será que ninguém dá água a esta planta?
Há 40 anos que neste país não chove!
Rasteja a democracia e o desgraçado canta...
A seca revela-se intensa e dolorosa,
Descrença, obscurantismo e muito medo!
O povo resignado vai sobrevivendo,
A esferográfica navega deveras preguiçosa
A fila é curta e isso desaponta,
O vermelho já é fraco e mais desvanece
O Cravo nesta terra já nem desponta!
O Bernstein mascarado lá enriquece...

A luta tem mãos de decepados punhos, que já só manejam a máquina.
A sobrevivência dá-se à custa das lâminas que a cada dia vão abrindo mais a ferida nas mãos - até ficarmos sem dedos e sem sustento.
Nesta metáfora, os punhos têm ligação directa às cordas vocais e ao arreganhar do dente.
Ligação directa, como num autómato insensível de uma criação superior que gera riqueza, e que jamais será nossa.
E hoje, até a máquina já foi embora, para onde as engrenagens são mais silenciosas...
Poluindo sem fronteiras, o Cravo não tem como respirar...

Porque a fome há! E a mentira sacia...
Como uma miragem em que o eleitor confia,
A trapaça enganou e a decadência se afia
Que assim nos amputa a vontade e a força!
Na qualidade de puta, transforma carne em louça!
Numa cirurgia felácia que nos chupa com avareza
Cadaveriza e suga a defunta polpa até ficar tesa,
O caule da planta já se tornou acessório,
E celebra-se cada pétala num elevar inglório
Porque o povo que tudo ganhou, tudo perdeu,
Perdido na turbina privada onde tudo se fodeu.

sexta-feira, maio 02, 2014

Luta de Classes

Um Sol digno para todos!
Para um povo fraterno,
Que rejubilará iluminado
Enquanto os peixes gordos,
Podres num pelourinho eterno,
A plebe exibe prostrados!
Os patrícios derrotados!

O povo unido é mais forte!
Cada indivíduo é em si valor,
Tomando a luta em suas mãos,
Dando memória à sua morte
Erguendo-se destemido lutador
Por uma causa todos irmãos!
Dando voz a todos os nãos!

Sem deuses, sem déspotas!
Sem santos, sem tiranos!
Luta de classes pela justiça
Não mais tachos, não mais putas!
Unida vontade dos seres humanos!
Fim de burguesias e da cobiça!
Bandeira vermelha que se iça!

Reacção atrás de tanques
Esmagada como pragas!
Pela mais forte classe social
Em igualdade nos palanques,
Assistindo à luta das adagas
Chamada jogo do capital
Que morre por dentro em corrosão
Restaura-se a soberania da nação!
Pela via da Revolução!

Ditadura do proletariado!
Poder na vontade popular!
Não mais subjugação ao mercado!
Um grito que ninguém pode calar!

sexta-feira, abril 25, 2014

25 de Abril, sempre!

Camaradas, meus irmãos!
A luta pela nação,
Tomemos em nossas mãos
Sintamos o poder da revolução!
Façamos abanar o chão!

Os alicerces do capitalismo
São as masmorras do povo,
Caminhemos rumo ao socialismo
Que as grilhetas se dissolvam de novo,
E jamais seremos Moscovo!

O povo é quem mais ordena!
E unido jamais será vencido!
Palavras de ordem contra a burguesia obscena
25 de Abril jamais será esquecido
Há de renascer o que julgam estar destruído!

E os detentores do grande capital
Hão de pagar pelos seus actos,
Por tentarem apodrecer o nosso Portugal
Hipócritas celebram entre bens inatos
O dia do povo e não dos baronatos!

Porque Abril é o nosso mês!
O 25 de Novembro e a reacção,
Festeja pela calada o porco burguês
Enquanto se reacende a chama da revolução
Pela soberania da nossa nação!

Sinta-se a Intifada à portuguesa
Contra a liberdade de cacetete,
Perpetrada pela direita realeza,
Atira migalhas aos que lhe estendem a carpete
A Esquerda está aí, contra a miséria que se reflecte!

Contra uma impiedosa elite,
Sustentada na mentira velha e senil
Marcharemos fortes e que se grite!
Pois nós somos bem mais que mil!
A viver e a lutar, sempre por Abril!
Abril! Abril! Abril! Avante Camaradas! Avante!
Que brotem de novo os Cravos!
Pois não seremos mais escravos!
25 de Abril, sempre!

sexta-feira, março 21, 2014

Concluir é errar

Morte aos filósofos que chegam a conclusões!
Todos os magníficos filósofos
Que falam de verdades certas,
São leitores de inéditos hieróglifos
São perversas bruxas libertas
Deviam ser enforcados!
E se já defuntos são
Que seja o esqueleto pendurado
Como num pelouro em tamanha humilhação,
Se cremados,
Que se regurgite sobre as cinzas
Sobre os falsos achados,
Se o paradeiro dos resíduos é desconhecido
Pois que se repudie o espírito,
Desconhecido é o que julgam ter resolvido
Em lógica e experiência mundana sobre a qual tirito...
A sua obra não é categorizada como feitiçaria
Mas se alucinamos, a verdade é inalcançável
E esses filósofos que chegam ao inquestionável
São pois meros comuns que só escrevem porcaria!
Concluir é errar
Concluir é defecar!
E adormecendo todos os sentidos e todas as "razões",
Morte aos filósofos que chegam a conclusões!

segunda-feira, março 03, 2014

O que Há em mim é Apenas Cansaço

O que há em mim é apenas cansaço
Fartura, abundância do que não quero,
Nem sequer deixo de oxidar após me fingir de aço:
Cansaço assim mesmo, sentimento mais sincero,
E desolação.

O meu subtil sangue esse, é uma inútil árvore,
Derrubada por uma violenta empresa malaia,
O meu peito, um jazigo intenso de mármore,
Esse mármore frio, todo
Esse, cujo peso faz-me afundar eternamente nesta catraia;
Tanto cansativo remar para nada,
Em direcção a lado nenhum,
Nenhum.

Há sem dúvida a certeza de que veio para ficar,
Há sem dúvida a certeza,
De que sem dúvida tudo é uma incerteza -
E nesta incerteza, há a certeza de que sinto tristeza,
E que veio para ficar, e eu não quero nada disso:
Porque eu não quero que permaneça esta agonia atroz,
Porque eu não quero a certeza de que vou ficar preso neste gélido resquício
Porque eu não quero que apenas a triste incerteza ocupe o lugar da minha voz
Ou até que exista apenas nós... Eu e mais eu...

E o resultado?
Para mim, só uma doença que corrói tipo gangrena
A bíblica indiferença...
Ença... Ença... Ensa...
Inerte irrequietação e a cabeça que só pensa,
Cansaço.
E a leviatã indiferença.

Dominique Martinho, Supra-Álvaro de Campos

terça-feira, fevereiro 25, 2014

A Liberdade Triunfante

Escravos da dívida sem voz
Pesado cajado populista,
Orgulhosa transparência atroz,
Discreção doce, máscara socialista!
Judiarias e outras agiotas
Que calado o povo consome,
Respeita-se o zionismo de idiotas
Que lamenta narigudo o pogrom,
Viva a democracia pluripartidária!
Num rotativismo sem igual
Há campanha mas é acessória,
União Social-Democrata: "Vamos Foder Portugal!"
Poder na rua é um nojo,
Se isso é democracia, viva o regime ditadorial!
A caneta anda de rojo,
Já sem vontade eleitoral!
Abster na ignorância,
E ser peixe pequeno nas malhas do capital,
Ora despedido, ora contratado...
Um sonho cobiçado a nível mundial!
E numa colonização moderna,
Onde uma anónima massa enriquece,
Sob o nome de ajuda externa,
A alma de poucos enlouquece
Na vagarosa dispersão do nevoeiro,
Que com a mão esquerda afastamos
Entre bordô e dourado traiçoeiro,
Fervorosos da luta de classes estamos
Mas entre tanto "clube" e organização
A esperança nos extremos-esquerdinos,
Vê-se distante e sem dimensão,
A pátria morre e já os fúnebres sinos,
Declaram morto o estado-providência
Tocando uma derrotista marcha incessante
Para que os carros topo de gama,
Distribuídos por quem engenhosamente gama,
(Como outrora carroça barroca galopante)
Encenem o poder de alguma eminência,
E assim nos orgulhemos da Liberdade Triunfante!

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

O Personagem

É tudo monótono
Monocórdico,
Monocromático,
O meu monólogo
Um discurso cinzento,
Sinto-me traído
Pelo descanso,
Que engana os sentidos,
E é tudo uma ilusão
Tanto tempo para acordar
Já acordei.
Não.
Não há maneira de isto ficar bem
É uma coisa hedionda,
Cheira mal, repugna,
Dá asco!
A besta mais suja vomita
A humanidade é o réu e o carrasco.
Acredita em tanta coisa, e em nada acredita.
Ninguém vale nada!
Eu não valho nada!
Recebi isto como uma chapada!
Interpreto a vida como um castigo!
E eu já não sei se consigo...
Enganar-me mais.

Sou um cínico de um mentiroso!
Sou um mentiroso de um aldrabão!
Um aldrabão de um falso!
Caminho fétido, trôpego e descalço
Nesta calçada patriota,
Cheia de agulhas e vidros de garrafas de vinho do porto!
Vinho alentejano
E aguardente da Lourinhã.

É a social-democracia...
A social-democracia é uma merda!
O capitalismo é uma merda!
A direita é uma merda!
O centro é uma merda!
A esquerda é uma merda!
A extrema-esquerda satisfaz...
Lá com uns vestigiozinhos de fezes.
Mas o liberalismo é uma merda! Neo, clássico, libertino, tenho raiva, odeio, e BAM! Morra!
O barulho urbano é uma merda!
É tudo uma merda
E até o que não é uma merda cheira mal!
É uma massa intensa e pesada
Constituída por matéria fecal,
É uma visão, um cenário para o qual acordo sem vontade
É o quotidiano, é a merda de mentira
Que vivemos todos os dias!
E longe do que é límpido e cristalino
Sinto-me mal, sinto ódio,
O pessimismo corrói a minha alma de cristal
O cristal não vale nada!
A minha alma não vale nada!
Vou vendendo-a às pecinhas...
Sou como um péssimo último modelo dos anos 90
E sou mandado para o abate por auto-determinação.
E nem para o abate tenho coragem de ir!
Porque cheira horrivelmente mal
É horroroso!
O abate é uma merda!
O abate é o capitalismo
E todos sabemos o que é que o capitalismo é!
Mesmo que o defendam! Pretendentes de parasita!
É vender os membros e o espírito à produção desumana
E até mesmo a produção desumana mascara-se de luxo!
E convence-me de que preciso de merecer a vida
Quando eu não escolhi porra nenhuma!

E o teu Deus é uma merda!
E o teu Deus quer-te na merda!
O teu Deus odeia-te mais do que aquilo que eu te odeio
E quantas coisas mais eu odeio, porque sim!
Numa embriaguez de ódio.
O teu Deus quer-te mal e foste tu que o criaste
E deste-lhe um tapete numa benção,
E cumprimentaste-o alegremente numa eucaristia
E Deus tratou-te com o cúmulo da misantropia.
E... E... E! E!
E está tudo arruinado agora!
É ruínas fumarentas por toda a parte...
Ruínas de merda!
Só cansam o olhar!
Pior que as ruínas desta nação em obras embargadas
Só a televisão com os seus prémios falsos!
Com o seu evangelho subliminar a sublimar a tua identidade
A tua identidade que é uma merda, e não vale nada!
E eu odeio-te, mas nem te conheço!
E mesmo assim odeio-te menos do que os que te conhecem ou os que dizem que querem o melhor para ti!
E eu odeio-te bastante, porque és incapaz de enlouquecer.
Tu não mereces nem o que conquistas, nem o que te enfiam na boca contra a tua vontade!
Porque tu não cometes o crime do raciocínio
E eu sou um delinquente despercebido,
E já cansa observar esta alucinação através destes olhos
Já cansa interpretar esta aparente realidade,
Que mais pode não ser que uma mentira
E só me resta fechar os olhos e adormecer...
Ir para onde a ferida que estimulo orgulhosamente
Num jeito sádico e de amor ao ódio,
Cala, e onde o meu pensamento pode calar
E onde o meu monólogo negro pode acabar,
Pois já nem sinto sofrimento nem desespero...
Sento-me neste trono contemplativo, numa contemplação doentia
E só tenho ódio, ira autêntica, e uma ideia inédita e voraz,
De que tudo é uma merda!
Onde quer que a paixão não tenha residência.

E então eu sou o personagem,
O personagem de merda,
A quem a sinceridade cortou as cordas vocais.
Recebo a vida como um castigo,
E eu já não sei se consigo...
Enganar-me mais.