O que há em mim é apenas cansaço
Fartura, abundância do que não quero,
Nem sequer deixo de oxidar após me fingir de aço:
Cansaço assim mesmo, sentimento mais sincero,
E desolação.
O meu subtil sangue esse, é uma inútil árvore,
Derrubada por uma violenta empresa malaia,
O meu peito, um jazigo intenso de mármore,
Esse mármore frio, todo
Esse, cujo peso faz-me afundar eternamente nesta catraia;
Tanto cansativo remar para nada,
Em direcção a lado nenhum,
Nenhum.
Há sem dúvida a certeza de que veio para ficar,
Há sem dúvida a certeza,
De que sem dúvida tudo é uma incerteza -
E nesta incerteza, há a certeza de que sinto tristeza,
E que veio para ficar, e eu não quero nada disso:
Porque eu não quero que permaneça esta agonia atroz,
Porque eu não quero a certeza de que vou ficar preso neste gélido resquício
Porque eu não quero que apenas a triste incerteza ocupe o lugar da minha voz
Ou até que exista apenas nós... Eu e mais eu...
E o resultado?
Para mim, só uma doença que corrói tipo gangrena
A bíblica indiferença...
Ença... Ença... Ensa...
Inerte irrequietação e a cabeça que só pensa,
Cansaço.
E a leviatã indiferença.
Dominique Martinho, Supra-Álvaro de Campos
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