terça-feira, abril 23, 2013

A Estrada

Pele fere em direcção ao horizonte
Asfalto queima mas é rudeza agridoce
Divã enlasguence, a estrada faz bisonte
Deserto com um fim, o prazer inoculou-se
Na simplicidade do regressar
Filosofia descansa e fermenta a criação
E na superior aventura de novo me largar
À estrada poeirenta que parece a minha danação
É monótona, é o meu lago mercenário
Pois afogo-me no prazer de ruídos inéditos
Numa marcha de carácter revolucionário
A alucinação não pára até nos ambientes mais fétidos
O gás, o fumo, os resíduos que passeiam
São as únicas barreiras ao atravessar de mim
Que mesmo com ódio a estes alcatrões que não se asseiam
Na estrada, no seu deserto lá ao fundo a melodia e a reverberação. Fim.

terça-feira, abril 16, 2013

Ruína

O germe é substância essencial
Circula como parte de existir,
É natureza, é vapor celestial
Activa a hélice que ao ferir,
Rasga o ventre que sem memória
É a ruína que me albergou outrora,
Morreu doce e frágil glória
E deambulo em pungente hora,
Envelhecimento da minha massa
Maturação fez-me conhecer,
Antibiótico para a desgraça
Que faz desmoronar este ser,
Sede de ser astro que explode
Conhecer alívio às frustrações,
Colide comigo num impacto que comove
Os dois supernova num rebentar de emoções,
O oblívio da ruína que exerce como meu advogado
A minha sombra num tribunal corrompido pelo azar,
Uma sentença injusta que jamais me deixa sossegado
Cerca-me de desilusões e vê-te difícil de alcançar,
Oblitera pronfundamente a minha identidade
Que és tu que a nutres com a tua habilidade.

terça-feira, abril 09, 2013

Química Complexa, Nenhum Valor

A maquinaria barulhenta, enoja e ensurdece,
Pinta invisivelmente austeras fronteiras
Distinguem num ridículo que permanece,
Dogma que abafado no estalar das caldeiras
Magnifica a diferença entre vassalo e suserano
Que na sua soberana e nobre sabedoria,
Olvida a sua reles condição de ser humano
Afogado em pútrida e desinteressada filosofia,
Que enaltece os excessos da civilização
Estruturando uma utopia a uma elite iluminada,
Deixando o homem besta à arbitrariedade da danação
Pois resmas de conhecimento não passam de côdeas
Ora por desinteresse ou estupidez não escavam o miolo,
A luz da superfície encandeia a origem hominídea
A mais presumível verdade causa desconsolo,
Respeito mútuo deve ser uma máxima
Verosimilmente nenhum de nós tem qualquer valor,
Não passamos de moléculas instáveis muito próximas
Que nos condenam a uma existência que para meu horror
Não nos permite qualquer dignificante escolha,
Pois já a complexa química que em nós circula
Condiciona a fruta que da árvore das decisões eu colha
Mas feudatários modernos em reflexão nula,
Insistem que é o ventre que me cagou neste mundo
Que determina o valor da minha existência
Quando cagados aqui todos fomos, isso é rotundo,
Nada devemos a ninguém, essa lei é uma ilusão
Imperialmente farta num divã de demência,
Uma exigência mascarada de solicitação
Fezes redigidas pela puta da civilização,
Que no seu exercício de puta suborna-nos para lavrar
No seu quintal de luxo que nada tem para nos dar,
Consideram o apogeu desta nauseante Era
O valor individual no qual se erguem imundas corporações,
As estradas são de macadame nos nossos corações
"Igualdade" é a canção que quanto mais repetida menos sincera,
Admitamos e marchemos ao som de um poderoso hino
O fim do "valor", essa mentira, que eu com raiva abomino!