terça-feira, maio 28, 2013

Marcha Hedónica

Um mundo corrompido, pelo mal e pela falsa inocência
Onde corrompida é, a realização pela realização
Da origem da corrupção, que emprega por excelência
Nas mais raquíticas camadas, a mais potente danação
O Divino lança veneno, em sua duvidosa existência
Num bizarro tão obtuso, que hipnotizante instiuição
Celebra-o proprietário do trono global, em magnificência
Sumptuosidade e bondade, que se esculpe em enredos de violação
Violação das suas próprias leis, em invólucros de prazer
Prazer violador, que age tão animalisticamente
Cai por terra a honestidade, e os bons valores
E tão enojado, em hesitações de regurgitação iminente
Choco-me por tamanha acidez de sabores
Escandalizo-me pela passeata vulgar, isenta de pudores
Força motriz de viver, é cópula e opiáceo
É tudo puramente físico, nem poeticamente metafísico numa pocilga de horrores
Onde é reduzido e desvalorizado, um obsoleto rácio
Entre a satisfação e a dignidade, jamais revisionados os seus meios
Porque neste mundo corrompido, a auto-humilhação é o feto
Numa gestação de sensações éfemeras, mãos que sustentam seios
Bocas que albergam falos, num pobre, podre e nojento dialecto
Sórdidas gentes marcham aviltantes, numa manifestação hedónica
Desiludidos em falsas desilusões, escondendo erótico amuleto
Desenham numa tela frágil, prospectos de fragmentação supersónica
Porque sofrer dói demasiado, e é substituído em vícios de forma irónica
E eu mirando a realidade, ponho olhos de predador em cianeto
Porque não suporto afogar-me, nestas heras humanas imundas
Tão superficiais e plásticas, julgando-se maquinaria complexa
Em verborreias estandardizadas, em repetições tidas profundas
E neste ritmo sôfrego de decepção, que em mim se anexa
Sinto cólera, fúria e ira, que mal consigo dissimular
E abafando traços filantrópicos, da utopia que habita em mim
Divinalmente tenho pretensões, de caos e sangue fazer prosperar
E apreciando o cravejar de epitáfios, ver a paz e a inocência. Fim.

quinta-feira, maio 23, 2013

Seja frívolo, seja poético, não te amar, seria herético

Num frenesim de emoções
A plenitude e o prazer,
Exigem tamanho sofrer
Que atingem os nossos corações;

De igual forma sangram
Jorrando lágrimas lentas,
Escorrem tão cinzentas
Espíritos que se amam;

Que se amam tão distantes
Com narizes que os separam,
Infortúnios nos distanciaram
Lágrimas paralelas de amantes;

Que transcende o carnal
Ultrapassa a estupidez,
E que morra pela tua tez
Desejo sentir até ao final;

O final em que preferia
Não morrer, como a nossa história,
Imortal por tamanha glória
Que impinge doce supremacia;

Que disparemos em uníssono
Este velho arsenal de guerra,
Que sobre a distância da nossa terra
Cala a dor em amor dulcíssono;

Que te amo exceda a ordem e a lei
Que nenhuma regra limite,
Este coração que ardente emite
O que eternamente sentirei;

Perco-me por ti, minha luz, insano
Seja frívolo, pela tua encantadora brancura,
Seja poético, pela tua apaixonante alma de doçura
Que nesta enorme loucura, só sei pois que te amo...

terça-feira, maio 21, 2013

Trincheira Civil

Dolorosamente plebeus cantando
Com os trinados mais aviltantes
São suínos hinos que vão exaltando
A morte dos meus semelhantes
São impactos incontestáveis
De bombas sem audição
Que ensurdecem incontáveis
Num planeta sem compaixão
É a clonagem, a manipulação
De máquinas de matar industriais
Que distribuem o pânico pela nação
Voz de líderes, sofisticados animais
Sobre os quais escarro a podridão
Que com escárnio e cólera acumulo
Ao ver pintado de escarlate o chão
Num objectivo que é tão nulo
Porque nenhuma vida ceifada
Encontra na sua morte justifição
Só satisfeita a vontade de corporação desalmada
Que deveria ser barbaricamente esmagada
Aos pés de um popular e irado pelotão.

sábado, maio 11, 2013

Linha de Montagem II

Dissolvo-me na conjuntura de oxidação
O cancro veio marchar sobre a metrópole,
O patronato demanda a liquidação
Lobos devoram-me na sacralidade da acrópole,
Que é a minha dignidade perdida
Para a sincronização de movimentos,
O fumo, o chiar, o óleo, faço-me vapor numa vida
Escarlate tétrico domina-me os pensamentos,
Os meus dedos furiosamente incham
Brotando fogo e ódio iminente,
Sobre as quimeras feitiços lançam
Num mundo onde a magia é indiferente,
É um Deus que olha para nós lamentando
Num trono jamais humilde e tão oco,
Uma criação cruel e inútil contemplando
Enquanto lentamente me faço louco,
Ressonância de sofrimento ao cessar do dia
As máquinas produzem dor a cada aurora,
E a tabuleta de indicações que lia outrora
Cravou em mim a sua obsoleta informação,
E eu caloso, ferido e queimado nesta indústria furtiva
Num pelotão de mortos-vivos disparo sobre a locomotiva,
Que feita de aço não sofre, já a minha paixão
A minha paixão é atirada para de baixo de,
Desconheço para baixo de onde, dissolve-se de tanta poluição
Talvez debaixo destas máquinas a não ser que,
A linha de montagem a tenha confundido com uma porca
Perdida entre peças de um produto sem alma alguma,
E patrulhando entre o cianeto e a forca
Deambulo trôpego e mudo numa noite de bruma,
A terra é a danação de uma alma e eu já perdi o Norte
Nestes arsenais de desespero, espero apenas a minha morte,
E sou depositado num contentor de lixo orgânico
Onde no meio de nauseantes cheiros, o silêncio soa-me oceânico.
O Fim.



P.s.:
Um pé de cabra na roldana
Uma obstrucção na engrenagem,
Salvem-me esta gente insana
Destruam-me a linha de montagem.

quinta-feira, maio 02, 2013

Linha de Montagem

O complexo mecânico velozmente traz as peças
Como suínos desventrados em ganchos para a plebe
Sem alma, estandardizadas e às centenas imersas
Nas minhas sujas e proletárias mãos onde se concebe
O novo produto a baixo preço de alta qualidade
Que cria fartura à conta da minha humilhação
Sou não mais humano ao ritmo de uma canção
Cantada em chiares e impactos no núcleo da cidade
O ritmo demoníaco desta maquinaria pesada
Sou levado à exaustão porque eu de facto sou nada
Apenas uma desalmada e fútil roda numa engrenagem
Fácil e friamente, inescrupulosamente substituível
Numa essencial, cega mas vital, cadeia de produção
Onde eu por mais que queira não me promovo além de pajem
O reles escudeiro de uma indústria complexa e indescritível
As minhas acções deixaram sequer de ser deliberadas
São repetidas maquinalmente, programadas, digitadas
O meu cogitar é dispensado, é desinfectado de mim
E o meu interior é uma caldeira, sangue esse... só há carvão
É a hulha incandescente cujo vapor faz bater o meu coração
Observo o oxidar da minha estrutura, enferrujarei até ao meu fim
Numa marcha de funções operárias, colérica e tuberculosa a minha imagem
Perdido no ritmo desumano da locomoção
Desta nefasta linha de montagem...