quinta-feira, fevereiro 23, 2012

O Polvo

O Polvo

8 tentáculos colossais fazem a besta
As ventosas sugam-nos na inconsciência
Conta o ancião como era pequeno numa cesta
Hoje nos destrói colocando-nos numa incoerência
Sociedade cancerígena portadora de deficiência

Uma incoerência que não nos parece tão grave
Devido às bojardas de entretenimento hipnotizante
Para nosso adormecimento elas são a chave
E esse é só um dos tentáculos, e já é bastante
Alguns dormem por pouco, mas são sonâmbulos nunca obstante

O segundo tentáculo nos sufoca com divisão
Somos todos diferentes, mas somos todos iguais
Depois da diferença perco a compreensão
Dever ainda é conjugado no imperativo aos demais
E conjugador porque ao nosso nível não cais?

O terceiro tentáculo é não mais que um chicote
Que nos obriga a servir nos encantos da liberdade
A liberdade é um museu, uma mulher com grande decote
Para onde todos olham, mas a inexistência de vontade
Marca a diferença entre o necessário e a sensualidade

O quarto tentáculo é o braço de Deus
Que com a sua mão poderosa nos aperta e nos sufoca
A pregação de compaixão e entreajuda, pondo de parte ateus
É gritada da mais cheia mina de ouro, e é aí que choca
A casa de putas que é o vaticano, que nos dá em troca?
(tirando palavras de amor, que mais criaram do que sararam dor)
Porque todos estão mais preocupados em encontrar a salvação
Do que encher da mais pura e imaterial riqueza o seu coração

E aí o quinto tentáculo me deixa sem respirar
A crise moral que é só mais um elemento da destruição
Ou se esfregam no varão do hedonismo para se libertar
Ou condenam tudo o que desbanaliza a vida sem emoção
Um abuso dá origem a outro e perde-se a louvada razão

E o sexto tentáculo como um persa lânguido relaxa
Estamos tão habituados a auto-proclamar-nos racionais
Que por vezes esquecemo-nos de o ser e a relíquia se racha
E dessa racha saí uma gota e outra, e de novo somos iguais
Estado natural da criatura, seres humanos e animais
(E aí aplicas a gota de cola para a relíquia susteres
E dás conta que somos inferiores ao outros seres)
Ou pelo menos é o que damos por vezes a entender

O sétimo tentáculo é o exército de fato e gravata
Com essas batinas dizem fazer o melhor por nós
Fazem-nos parecer que a sua vida é bastante chata
Para nos afastarmos do seu jogo de dominío atroz
Apelam liberdade e igualdade, como ginástica de voz
São os maestros que as mais belas peças de crise orquestram
Com legatos de ameaça e com staccatos de obrigações nos empestam

Ao oitavo sinto menos vontade de escrever
As ventosas sugam a paciência e paixão
O valor e gosto substituí-se por efémero prazer
A cultura é instantânea e de fácil apreciação
A cultura não é cultura é apodrecimento da multidão

E tantos polvos há, como tantas estrelas há no céu
Segue o teu coração, não o fazer é uma absurdidade
Procura a tua estrela, não o fazer é vestires um véu
Despe-o, olha para a estrela, ama-a, encontra a felicidade!

Antes que o polvo mutile os teus sonhos
Mutila os seus tentáculos

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