segunda-feira, março 07, 2011

O Espirro

O Espirro

Milhões de bactérias descenderam,
Trazendo o espírito das trevas,
Com o mal se comprometeram
Para ser eternamente suas servas.

Infectaram todos à sua passagem
Para caírem na total depressão,
E anjos sentaram-se na margem
Dos mares da nossa aflição.

Trovaram variados incentivos,
Com belas melodias de harpa,
Para suicídios colectivos
Em qualquer poço, corda ou farpa.

E assim o triste mundo o fez,
Todos colocaram fim à sua vida,
Um, e por vezes dois de cada vez,
Assim a história foi lida.

Mas com todos mortos quem a leu?
Um velho moribundo à beira do mar,
Só Deus sabe o quanto ele sofreu
Sem membros para se poder matar...
Espera agora uma onda para o levar

segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Ao novo acordo ortográfico

Ao novo acordo ortográfico

Desejo tomar uma acção
Com "c" antes da cedilha
E a quem o tirou, um ladrão
Violarei gloriosamente a filha

E enquanto os seios dela mordo
Com vingança no meu coração
Ignorarei orgulhosamente o acordo
Com o espírito dos poetas desta nação

Retiro-me agora para me dirigir então à pharmácia...
Sou o Luíz, um português e poeta de 15 anos
Meu nome escreve-se com "z" e lusitana é a minha raça
Pouco me interessa se considereis meus poemas profanos

Com o espírito dos poetas desta nação
Nem que a vingança seja apenas ignorar
Terei o puro português no meu coração


Luíz D'Andrade (Dominique Martinho)

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Maria-da-Manta e a fome dos lagos

Maria-da-Manta e a fome dos lagos

Maria-da-manta de olhos cruéis e tão flamejantes
Quanta fome saciaste desses milhentos lagos de amargura
Quanta criança magoaste com tua brilhante cornadura
Afogando-as nesses lagos e ouvindo seus gritos alarmantes

Serás assim tanto um mito, assim tanto um mito como te tomam
Oh tu, maldade que apoquentas crianças em histórias
Que permaneces na idade de inocência nas suas memórias
Esses seres que demonstram uma liberdade que tanto lhes roubam

Acordas as crianças que tão descansados dormem
Atraindo-as com o fogo dos teus olhos, esse símbolo
Da tua maldade culpada, dos pequenos que somem

Vês a sua cara de sofrimento, nesses lagos nefastos
Caso não seja de todo turva, mas cristalina a sua água
E ninguém de ti sabe pois és sublime, e não deixas quaisquer rastos

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

A Serenata Lunar

A Serenata Lunar

O cenário era adequado
Uma noite de lua cheia
Um vento bem atenuado
Ela no lugar de Dulcineia

Os seus cabelos eram da cor da treva
Do lugar onde antes me encontrava
Segui-lhe sem perguntar p'ronde me leva
Esquecendo o inferno em que estava

No entanto eu era um trovador do povo
E ela uma senhora de alta sociedade
Mas é mais forte a razão porque me movo
Desistir nunca... tal é a insanidade.

Cantei-lhe com uma voz bem treinada
Motivado pela minha profunda paixão
Só queria agradar à minha amada
Mostrar-lhe o que bombeava meu coração

Era Inverno e o frio reinava
Mas ela desceu e veio ter comigo
O seu cabelo doce me chicoteava
E congelamos os dois para castigo

Os dois congelados por uma infracção
A alta sociedade metida com o vulgo
Ela nunca me mostrou o seu coração
Mas sentia o mesmo que eu, julgo...

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

A ninfa da floresta

A ninfa da floresta

Estava preso a uma enorme árvore
Pela rudeza do aço de uma seta
E uma repentina aragem fria de mármore
Decidiu residir naquela floresta

Estranhara a aragem pois o dia não estava ventoso
Mas via um vulto correndo com algo na mão
Chamei por essa pessoa que me deixara curioso
Era uma jovem que diante de mim parou então

Uma autêntica ninfa da floresta com uma flauta de pã
Um corpo extremamente sensual que seduziria qualquer homem
Envergava umas vestes verdes e curtas e uma mala de lã
E começara uma melodia à medida que as minhas dores somem

"Quem és tu jovem que enche a minha alma de calor?"
Perguntei-lhe, nunca havia visto esta beldade
"Eu sou a dona desta floresta, meu senhor"
Disse-me ela... em tom de crueldade

Não percebi o tom de crueldade na sua voz
Até que vi um arco e 3 flechas onde deviam constar 4

sábado, fevereiro 05, 2011

Deus Eu Sou Chamado

Deus Eu Sou Chamado

Eu sou a tua mais indesejada dor
Sou toda a tua triste miséria
O teu mais profundo horror

Eu sou o cancro terminal
Culpado da tua indesejada calvície
Eu adianto o que te faz mortal

Eu entro em ti pelos poros da tua pele
Espalhando tanta agonizante dor
Como quantas meninas há num bordel

Eu sou a tua ferida que não sara
O ardor mais horrível que sentiste
O mais sincero esgar na tua cara

Eu sou a tua grande depressão
O teu infortúnio psicológico
O motivo da tua desmotivação

Eu sou a raiva e a cobiça
O ódio e o seu promovedor
Eu sou a tua corcunda que se iça

Eu sou os pesadelos que te não largam
A razão para teres medo de dormir
Todas as imaginações que se amargam

Eu sou aquele que vê o que fazes
E verifica se metes o pé na linha
Para te lançar um dia em fogos vorazes

Eu sou aquele para quem tu rezas
Na esperança de seres salvo
Em quem deixas inúteis promessas

Chama-me Deus mas eu sou a Malevolência
Setecentas e uma vezes disse que te odeio
Se não o entendes é tua a deficiência

terça-feira, fevereiro 01, 2011

A Preguiça e a Depressão

A Preguiça e a Depressão

Para a doce e gloriosa desgraça
Caminho em fervorosa marcha lenta
Para o infortúnio e total miséria
Esmagado por toda a sua massa

A dor desune as células do meu corpo
A desintegração é lenta e dolorosa
Estar morto deixou de ser um capricho
E passou a ser a mais intensa das necessidades

Enraivecido pelo sentimento de culpa
Tento coloca-lo furiosamente nos outros
O falhanço é recuperável embora difícil
E então renego-o orgulhosamente

Nos confins da depressão sem razão
Me enterro sem qualquer necessidade
Continuo nos meus queixumes egocêntricos
Tal a revolta do meu desentendimento

Este desentendimento comigo próprio
Na procura da inexistente razão
Para querer sempre mergulhar mais fundo
Mergulhar mais fundo em direcção à miséria

Tenho ouro, prata e até bronze
Mas para mim é tudo lata barata
A dor de alma rodeia-me impenetrável
Deixando-me sem ter para onde ir

Devia fazer algo que me desse honra
Mas prefiro não o fazer e encostar-me
Dizer que estou deprimido e em agonia
Esperar pelo fim repudiando o esforço

Para a desgraça!
Aqui vou eu!
Sem um justificável porquê...
Para a desgraça!
Aqui vou eu...

terça-feira, janeiro 18, 2011

O Início de Tudo/ A Mão

O Início de Tudo

E se no início de tudo, do que é do que era
Não tivesse explodido uma bola densa
Uma só esfera com todos os elementos
Todos os elementos numa só esfera...

E se no início de tudo tivesse havido um coração
Que explodiu violentamente pela razão
De ter demasiados sentimentos aprisionados
E que libertou inimaginável emoção

Sentimentos como amizade e dois átomos de estima
Em reacções emocionais intensas criaram amor
E a malevolência e o desprezo por outro lado
Formaram o ódio que aparentemente muitos anima

Tristeza, desespero e desmotivação
Criaram a depressão que tantos consome
E a depressão pentaentristecida
Formou a melancolia tóxica ao humano coração

Com equilíbrio e ternura numa de suas facetas
Formou-se uma estrela a que chamamos Sol
Que outrora era rodeado de poeiras de indiferença
Que hoje tal como o nosso são planetas

O nosso Planeta odiava com toda as suas forças Theia
Colidiu com ela possuído pela sua raiva
Os destroços de Theia formaram a Lua
E acidentalmente a Terra encontrou a sua Dulcineia

A Terra após encontrar calma
Atraiu uma atmosfera de equilíbrio
A Lua presenteou-a com rios e mares
E se formou um lar para criatura e alma

Desconhecia Terra as consequências de tal glória...



A Mão

Egoísta da nossa parte chamar a Terra de planeta nosso
Mas o egoísmo parece ser a razão da nossa existência
Somos espécie mais execrável imaginável
Mordemos a mão que nos alimenta, até ao osso...

Exigimos a submissão do próximo à nossa vontade
Sonhamos todos secretamente com o domínio
Abusamos desnecessariamente conscientes disso
Mordendo a mão que nos alimenta, sem piedade...

Mas por vezes ainda sabemos amar...
Mas o amor parece ser um elemento pouco abundante
Ou talvez poucos o conseguem respirar
Ou preferem simplesmente morder a mão até ela sangrar...

Por vezes sabemos tomar consciência
E fazer algo por merecer esta mão
Esta Terra... mas nunca é suficiente
E somos racionais diz a ciência...

Mordemos esta mão que nos alimenta...
Até um dia ela não nos querer alimentar mais
E deixar remorso em vez de alimento
Remorso em forma de uma catástrofe dolorosa e lenta...

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Relógio

Relógio

Cai no oblívio a tua verdadeira função
Ouço o teu sadicamente repetitivo TIC TAC
Um prazer para a minha audição...
E só espero que por o sentir ninguém me ataque

Contas o tempo até ao fim dos meus dias
E até ao fim dos meus dias te escutarei
Recordo o meu passado que tão atentamente lias
E lamento imenso se alguma vez te ignorei

Marcaste o primeiro segundo da minha vida
E começaste a contagem decrescente para o meu findar
Devia odiar-te por deixares a minha motivação perdida
Mas sento-me escutando-te até decidires parar

E se contaste o primeiro segundo da minha vida
E se ninguém se lembrar de te colocar na sua lista de saque
Contarás pois também o último sem ser interrompida
A tua sádica sonoridade: "Tic... tac.... tic... tac... tic... TAC!"

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Ao Ataque!

Ao Ataque!

Uma ténue visão do sol ao início da manhã no horizonte
Espada na mão isento de medos e isento de questões
No orgulho e na esperança a força tem a sua fonte
É hora de gritar... AO ATAQUE, CAMARADAS!!!

Há que ser rápido para o Sol não nos iluminar a espada!
Há que ser rápido para o Sol não nos eliminar a todos!
Há que ser rápido para atacarmos sem eles saberem de nada!
Há que ser rápido camaradas! HÁ QUE SER RÁPIDO!

E corremos com esperança em direcção à aldeia inimiga!
As lágrimas da ira e de desejada vingança atingem os que vão atrás!
Há que vingar o que nos roubaram e tão fortemente nos liga!
As nossas terras, os nossos montes, os nossos rios!...

Mas entretanto o Sol subiu e a luz nos desmascarou...

O alerta precedeu uma chuva de setas de pontas de aço
Os meus irmãos compatriotas foram desta para melhor
Sou atingido nas costas ao olhar para o nosso fracasso
Sinto sangue sair-me pela boca e gesticulo que isto não fica assim

No submundo nós lutaremos...
Há de ser feita vingança!
Nisso deposito pois
Toda a minha esperança!